sábado, 25 de março de 2017

Marcas de chocolate que utilizam trabalho escravo infantil



Em setembro de 2015, foi apresentada uma ação judicial contra 8 empresas (Mars, Nestlé, entre outras) alegando que estas estavam a enganar os consumidores que “sem querer” estavam a financiar o negócio do trabalho escravo infantil do chocolate na África Ocidental.




Crianças entre os 11 e os 16 anos (por vezes até mais novas) são fechadas em plantações isoladas, onde trabalham de 80 a 100 horas por semana.



 O documentário Slavery: A Global Investigation (Escravidão: Uma Investigação Global) entrevistou crianças que foram libertadas, que contaram que frequentemente lhes davam murros e lhes batiam com cintos e chicotes. “Os espancamentos eram uma parte da minha vida”, contou Aly Diabate, uma destas crianças libertadas. “Sempre que te carregavam com sacos [de grãos de cacau] e caías enquanto os transportavas, ninguém te ajudava. Em vez disso, batiam-te e batiam-te até que te levantasses de novo.”






Em 2001, a FDA queria aprovar uma legislação para a aplicação do selo “slave free” (sem trabalho escravo) nos rótulos das embalagens. Antes da legislação ser votada, a indústria do chocolate – incluindo a Nestlé, a Hershey e a Mars – usou o seu dinheiro para a parar, prometendo acabar com o trabalho escravo infantil das suas empresas até 2005. Este prazo tem sido repetidamente adiado, sendo de momento a meta até 2020. Enquanto isto,o número de crianças que trabalham na indústria do cacau aumentou 51% entre 2009 e 2014, segundo um relatório de julho de 2015 da Universidade Tulane.



Como uma das crianças libertadas disse: “Vocês desfrutam de algo que foi feito com o meu sofrimento. Trabalhei duro para eles, sem nenhum benefício. Estão a comer a minha carne.”

As 7 marcas de chocolate que utilizam cacau proveniente de trabalho escravo infantil são:
Hershey
Mars
Nestlé
ADM Cocoa
Godiva
Fowler’s Chocolate
Kraft




Assista ao documentário “O lado negro do chocolate”

sábado, 18 de março de 2017

Solidão da mulher negra e níveis de preterimento


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Tenho uma conhecida, que completou 30 anos semana passada, negra retinta, gorda, cabelo 4c, traços negróides acentuados, marcas de espinha no rosto. Nunca foi beijada. Nunca beijou ninguém. O que dirá sexo, não sabe o que é isso, só tem ideia do que é o contato e a troca de sensações entre dois corpos, através de imagens na TV, revistas, de ouvir conversas de terceiros. Disse que não se importa mais, que até prefere ficar sozinha, porque homens são todos uns babacas que não prestam. Esse conceito ela aprendeu vivendo, sendo humilhada, sofrendo deboche, desde a pré escola até o último ano escolar. Se sente desconfortável até hoje perto de qualquer um do sexo oposto, não faz contato visual, para de conversar, como se estivesse com medo de ser machucada novamente, como foi a vida inteira. E quando ela fala que não se importa, que já passou, que já se acostumou com a ideia de que não veio pra esse mundo pra ter nenhum tipo de relacionamento, que cuidar do cachorro e da mãe é destino, me parece que nem ela acredita no que diz, e eu só consigo olhar no fundo daqueles olhos e enxergar dor, dor e mais dor.
Não é uma história que eu criei para ilustrar o assunto que eu vou falar. Infelizmente é real.

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” Triste né. Coitada. Ainda bem que eu não sou preterida, não sei o que é solidão, sempre tem alguém querendo uma transa, não vou embora sozinha da balada.”

Eu já tive esse discurso, e estou vendo outras mulheres negras o reproduzirem para deslegitimar a pauta da solidão. E digo mais, com ares de superioridade, como se fossem ou estivessem muito melhor que as outras que são totalmente preteridas.

Melhor como? Sendo lanchinho da madrugada?

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(Antes de continuar lendo, saiba que eu não tenho como abordar essa parte de forma bonitinha.)

É Horrível essa expressão, eu sei, mas eles usam. Levam a branca no cinema, barzinho, restaurante, e com vc pedem pra passar uma da manhã na sua casa, n tem ninguém acordado, ninguém na rua, estaciona o carro em qualquer lugar depois e está ótimo.

Ou recebendo proposta pra ser amante? Está ficando com o cara faz tempo, achando que o negócio vai evoluir, ele diz que começou a namorar uma branca, mas vcs podem continuar se vendo escondido. Que lindo.

Ou ele fingindo que não te conhece na frente dos amigos? Ou ele dizendo que os vizinhos não podem te ver? São fofoqueiros, melhor evitar falatório.

Poderia continuar, e não adianta tentar criar desculpas para estas situações, porque vc sabe o que está acontecendo, a verdade é dura mas temos que encarar: a solidão da mulher negra.

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Então quando entrarmos nesta temática, não tente tirar o corpo fora, achando que não é com vc, isso afeta todos nós, de maneiras distintas. Não se ache superior à outra irmã preterida cruelmente, pois senão acontece com vc, então é vista apenas como depósito de esperma. Pesado né? Eu sei. A mulher negra, no sentido coletivo, ainda não é enxergada como um ser digno de amor, que merece cuidado, que merece respeito, que não tem que ser forte o tempo todo. E é por isso que estamos lutando, agora se depois de td essa análise, vc ainda achar que é melhor que outras, eu só posso devolver o olhar penoso e dizer:
Triste né. Coitada

texto de Pela ótica da mulher negra
por Alessandra Eduardo

sexta-feira, 17 de março de 2017

Mostrar nossa bunda não é empoderamento!


Não só de acordo com as minhas vivências, mas também analisando as redes sociais percebi que:


TODAS NÓS MULHERES NEGRAS AINDA SOMOS SARAH BAARTMAN.

Quem?
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Também conhecida como Saartjie, Vênus Negra, Vênus Hotentote…Nada ainda? Nunca ouviu falar? Então mesmo esqueminha de sempre, senta aí que a gente conversa.

Sarah nasceu em 1789 na região da Africa do Sul, perdeu os pais muito cedo, e aos 10 anos de idade foi trabalhar em uma fazenda holandesa fazendo serviços domésticos. Chamou a atenção dos patrões por suas formas ”inusitadas e anormais” (percebam que nesta época a medida do mundo era dada pelo homem branco europeu, tudo que fugia disso era considerado desumano e anormal.Quer dizer..era? Ou ainda é?). Então prometeram levar ela para Inglaterra, para se tornar uma ARTISTA que ficaria rica, e ela mesmo analfabeta supostamente assinou um contrato.

imagem filme Vênus Negra

Mas o que fizeram da vida breve dessa mulher foi desumano. Não existe outra palavra para descrever o que aconteceu. Ela se apresentava com uma roupa colada da cor de sua pele, fumando um cachimbo, e a história contada era de uma selvagem que foi capturada e domada. Ela era ensaiada a emitir barulhos animalescos e fingir que iria atacar os brancos da platéia, usava uma COLEIRA e as pessoas que pagavam um dinheiro extra podiam tocar em suas nádegas avantajadas. A condição de Sarah era nunca ter que exibir seus órgãos genitais. Mas ao ser vendida para um novo dono que era muito mais duro com ela, foi obrigada a se exibir totalmente nua, inclusive em festas noturnas onde homens bêbados se divertiam apalpando o seu corpo.


O racismo ”cientifico” estava em seu auge, logo o corpo de Sarah despertou interesse e curiosidade nos estudiosos da época. Ela chegou a ser ‘estudada’ ainda em vida, era medida, cutucada, apalpada e constantemente comparada com orangotangos. Começou a beber e fumar com muita intensidade para suportar estas apresentações torturantes, no entanto um grupo de ativistas da época ficaram horrorizados com a forma como ela era tratada e iniciaram um processo judicial contra os ‘empresários’ da mesma, porém ela os defendeu e afirmou receber metade do lucro do que eles faturavam, e mesmo que provavelmente estivesse sendo coagida, o processo foi arquivado, afinal era apenas uma negra. Por motivos políticos, as apresentações se tornaram impossíveis, Saartjie foi levada a se prostituir e tornou-se alcoólatra. Faleceu aos 26 anos de idade, (provavelmente) de sífilis.

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imagem filme Vênus Negra

Enfim descansou, deixaram o corpo dela em paz né? Claro que não! Um naturalista fez um molde do corpo, antes de dissecá-la. Ele foi usado para definir uma fronteira entre a mulher branca ‘normal’ e a mulher africana ‘anormal’. Foi preservado o cérebro e os genitais dela que depois seriam expostos por muito tempo, até 1974 faziam parte do acervo público da França, sendo o ÓRGÃO GENITAL dela exibido ao lado do CÉREBRO de grandes homens pensadores, como Descartes. Eu não destaquei essas duas palavras a toa. Se vc já entendeu é isso mesmo! Caso contrário vou explicar: O homem branco e a mulher negra seriam os dois extremos da humanidade, ele sendo representado pelo cérebro, um ser racional, capaz de produzir o saber, ela sendo representada pela vagina, um ser sexual, e primitivo.

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A réplica de seu corpo (em gesso) e o seu esqueleto ficaram expostos no Musée de l'Homme, até o ano de 1985, assim como também os seus órgãos genitais e o cérebro, conservados em frascos de formol.

Várias tentativas foram feitas para se resgatar os restos mortais de Sarah (o molde de gesso de seu corpo tb) e devolver ao continente africano para um enterro digno. Em 1994 o então presidente da África do Sul, Nelson Mandela mais uma vez fez o pedido ao governo francês, e somente em 2002 a solicitação foi atendida (demorou pq os caras de pau entraram na justiça para não devolver), assim 192 anos depois ela retorna ao lar, e é enterrada humanamente.


Depois de saber, que nossa objetificação sexual é histórica, que nossa suposta falta de aptidão intelectual vem de muito longe e ainda hoje esse estereótipo continua, em 2017 vc se depara com uma página dita de empoderamento negro, com mais de 8 MILHÕES de seguidores onde a mulher negra sempre é retratada de costas para que se possa admirar bem o seu PODER.

Não sou eu que estou falando! O mecanismo de empoderamento deles é esse! Colocam fotos de negras com bundas avantajadas e escrevem:

Já viu o poder de uma negra? Conhece o poder das negras?

Centenas de comentários nauseantes de machos negros e brancos, e de mulheres negras se sentindo admiradas e superiores as brancas ”sem bundas.”

Nessas horas eu peço para Dandara me levar daqui. Risos.

Mas falando sério, a critica não é baseada no puritanismo, e sim na dinâmica que continua a mesma. Somos vistas como seres sexuais incapazes de produzir conhecimento, e quando produzimos somos invisibilizadas, e as obras não são reconhecidas e nem recebem a importância devida, que o diga Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez..

Então ACORDA filha! Nosso poder não está em nossa BUNDA e sim em nosso CÉREBRO! As pretas começaram este movimento intelectual lá atrás, cabe a nós continuarmos e propagarmos o legado delas. Com esse saber, que vamos lutar e conseguir mudar nossa atual condição, enquanto base da piramide social.

E isso sim é o verdadeiro poder de uma negra, meus caros.


Original de : Pela ótica da mulher negra
Publicado por Alessandra Eduardo
Mulher negra, feminista interserccional, virginiana. Graduanda em Engenharia pela UFSCar, militante do movimento negro e moderadora do grupo Feminismo Negro.