TODAS NÓS MULHERES NEGRAS AINDA SOMOS SARAH BAARTMAN.
Quem?
Também conhecida como Saartjie, Vênus Negra, Vênus Hotentote…Nada ainda? Nunca ouviu falar? Então mesmo esqueminha de sempre, senta aí que a gente conversa.
Sarah nasceu em 1789 na região da Africa do Sul, perdeu os pais muito cedo, e aos 10 anos de idade foi trabalhar em uma fazenda holandesa fazendo serviços domésticos. Chamou a atenção dos patrões por suas formas ”inusitadas e anormais” (percebam que nesta época a medida do mundo era dada pelo homem branco europeu, tudo que fugia disso era considerado desumano e anormal.Quer dizer..era? Ou ainda é?). Então prometeram levar ela para Inglaterra, para se tornar uma ARTISTA que ficaria rica, e ela mesmo analfabeta supostamente assinou um contrato.
imagem filme Vênus Negra
O racismo ”cientifico” estava em seu auge, logo o corpo de Sarah despertou interesse e curiosidade nos estudiosos da época. Ela chegou a ser ‘estudada’ ainda em vida, era medida, cutucada, apalpada e constantemente comparada com orangotangos. Começou a beber e fumar com muita intensidade para suportar estas apresentações torturantes, no entanto um grupo de ativistas da época ficaram horrorizados com a forma como ela era tratada e iniciaram um processo judicial contra os ‘empresários’ da mesma, porém ela os defendeu e afirmou receber metade do lucro do que eles faturavam, e mesmo que provavelmente estivesse sendo coagida, o processo foi arquivado, afinal era apenas uma negra. Por motivos políticos, as apresentações se tornaram impossíveis, Saartjie foi levada a se prostituir e tornou-se alcoólatra. Faleceu aos 26 anos de idade, (provavelmente) de sífilis.
imagem filme Vênus Negra
Várias tentativas foram feitas para se resgatar os restos mortais de Sarah (o molde de gesso de seu corpo tb) e devolver ao continente africano para um enterro digno. Em 1994 o então presidente da África do Sul, Nelson Mandela mais uma vez fez o pedido ao governo francês, e somente em 2002 a solicitação foi atendida (demorou pq os caras de pau entraram na justiça para não devolver), assim 192 anos depois ela retorna ao lar, e é enterrada humanamente.
Depois de saber, que nossa objetificação sexual é histórica, que nossa suposta falta de aptidão intelectual vem de muito longe e ainda hoje esse estereótipo continua, em 2017 vc se depara com uma página dita de empoderamento negro, com mais de 8 MILHÕES de seguidores onde a mulher negra sempre é retratada de costas para que se possa admirar bem o seu PODER.
Não sou eu que estou falando! O mecanismo de empoderamento deles é esse! Colocam fotos de negras com bundas avantajadas e escrevem:
Já viu o poder de uma negra? Conhece o poder das negras?
Centenas de comentários nauseantes de machos negros e brancos, e de mulheres negras se sentindo admiradas e superiores as brancas ”sem bundas.”
Nessas horas eu peço para Dandara me levar daqui. Risos.
Mas falando sério, a critica não é baseada no puritanismo, e sim na dinâmica que continua a mesma. Somos vistas como seres sexuais incapazes de produzir conhecimento, e quando produzimos somos invisibilizadas, e as obras não são reconhecidas e nem recebem a importância devida, que o diga Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez..
Então ACORDA filha! Nosso poder não está em nossa BUNDA e sim em nosso CÉREBRO! As pretas começaram este movimento intelectual lá atrás, cabe a nós continuarmos e propagarmos o legado delas. Com esse saber, que vamos lutar e conseguir mudar nossa atual condição, enquanto base da piramide social.
E isso sim é o verdadeiro poder de uma negra, meus caros.
Original de : Pela ótica da mulher negra
Publicado por Alessandra Eduardo
Mulher negra, feminista interserccional, virginiana. Graduanda em Engenharia pela UFSCar, militante do movimento negro e moderadora do grupo Feminismo Negro.
Carnaval retrata este texto.
ResponderExcluirLamentável. Até hoje a mulher negra, é reconhecida apenas por sua beleza física, considerada como "exótica". Ter nádegas avantajadas, infelizmente se torna uma questão que ofusca o pensar, o intelecto e a cultura da mulher afrodescendente. Pouca coisa, OU NADA, mudou, desde o século 19...
ResponderExcluir